No último domingo nós celebramos a memória litúrgica de Santo Agostinho, Doutor da Igreja.
Ele é um dos meus grandes modelos de santidade e vida intelectual. Neste e-mail, eu quero propor um aspecto da vida desse gigante como essencial para todos nós: a confissão.
Temos que nos confessar. Isso não é uma opção, mas a primeira regra da vida intelectual: a sinceridade completa para consigo e com Deus.
Quando escreveu as suas Confissões, Santo Agostinho o fez como oração. Tomou a Deus como interlocutor e pediu a Sua ajuda para não ocultar nada, não se equivocar no relato e nem nos motivos das suas ações passadas.
Por que essa preocupação? Agostinho já estava na Igreja – já era bispo – quando escreveu as Confissões. Tendo tomado outro rumo, por que ele temia cometer erros na sua narrativa do passado?
Porque não lhe bastava descrever o que aconteceu. Agostinho sabia que, aos olhos de Deus, precisava encontrar as motivações reais das suas atitudes anteriores. Tais motivações, dolorosas como fossem, dariam a ele clareza quanto ao próprio amor.
Notem que a decisão de Santo Agostinho não foi mórbida e nem escrupulosa: foi humilde. A humildade é o caminho da miséria humana para a misericórdia divina.
Ao narrar a própria miséria – todos os seus amores desviados, tortos –, Agostinho conseguiu ver como os antigos pecados o afastaram de inclinações que o próprio Deus havia colocado no seu coração: o amor ao próximo e à sabedoria, o dom de ensinar e exortar, e a dedicação integral da vida a um propósito.
Ele já desejava tudo isso quando pecou. Mas tomava as (pequenas) partes pelo todo, os prazeres e a vanglória por felicidade, e a saciedade física pelo repouso do coração.
A unidade, a felicidade e o repouso, no entanto, não chegavam. O seu coração permaneceu inquieto até que ele encontrou a Deus. Ele percebeu que a sua sede só poderia ser saciada na “fonte da água viva”.
Ao narrar – para Deus – os caminhos equivocados que tomou para satisfazer as suas inclinações, conseguiu perceber que, desde o início, era o próprio Deus a quem ele buscava.
Ao se confessar, Santo Agostinho procurou “recompor minha unidade depois dos dilaceramentos interiores que sofri quando me perdi em tantas bagatelas, ao afastar-me de tua Unidade”.
As inclinações legítimas, quando erroneamente perseguidas, dilaceram-nos mais; afastam-nos da unidade que buscamos. Precisamos ter consciência do que realmente queremos, dos verdadeiros passos que podem nos realizar.
Só a prática da confissão nos dará essa consciência. Vamos aprendê-la com Santo Agostinho?
Até breve, meus amigos.
Victor.
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Na minha livraria, vocês podem encontrar as Confissões.
No livro Virtudes no Cotidiano, eu proponho uma série de exercícios que estimulam a prática confessional.