O movimento fundamental da nossa vida é o amor, que nos atrai ao que nos parece belo, bom e verdadeiro.
Contudo, muitas vezes temos dificuldades de discernir quais são os bens verdadeiros, os mais elevados e duradouros, ficando com o desafio de ordenar nossos desejos a partir da hierarquia da realidade.
Partindo dessa percepção básica, Santo Agostinho chamou a virtude de “ordem do amor”, o modo de integrar nossas ações num quadro estável, alicerçado no Sumo Bem que é Deus, do qual emana o ser e a verdade, a beleza e a bondade das demais dimensões da realidade, como a ciência e a filosofia, a arte e a cultura, a amizade e a família.
Diante da crise da cultura, que relativiza os valores supremos, deixando o indivíduo desnorteado e confuso na vida, encontramo-nos constantemente tentados pela desordem.
A tecnologia, a política, as artes (deslocadas do seu sentido original, de “engendrar na beleza”, como disse Jacques Maritain) e as notícias cotidianas estimulam a confusão da inteligência e dos sentimentos.
Como as bruxas na peça Macbeth, de Shakespeare, somos tentados a dizer que “são iguais o belo e o feio; andemos da névoa em meio”. Paradoxalmente, a nossa cultura em crise pretende mostrar que descobrir o caminho significa constatar que não há caminho algum.
Seria como dizer que só encontra a felicidade aquele que afirma a sua inexistência. É de paradoxos e negações assim que a cultura contemporânea foi formada.
Se “são iguais o belo e o feio”, por que as pessoas continuam procurando? Se não há caminho algum, por que continuam tentando projetar as próprias vidas? Se não há felicidade, por que buscar o prazer, a diversão e o entretenimento?
A sede de satisfazer necessidades e desejos é reconhecida pela cultura em crise. Reconhecida e até fomentada já que, se não há sentido, que se tente ao menos o movimento por mera distração.
A fuga às questões últimas, típica da nossa época, exalta a sede de satisfação enquanto apresenta substitutos menores. Para um desejo cuja saciedade nunca chega, que ao menos haja entorpecimento até o fim, até o vazio do tédio.
Reconhecer a sede e apresentar paliativos é, no entanto, uma tentativa de resposta. Fraca e superficial, mas uma tentativa. Por trás dela está o vazio: “comamos e bebamos porque amanhã estaremos mortos”. E mais nada.
A sede de amor, beleza e sentido é tão minha quanto de vocês. Eu também estive perdido e encontrei miragens no deserto. Ainda tenho essa sede, porque ela é humana. Mas encontrei a fonte capaz de satisfazê-la verdadeiramente. Encontrei a promessa que começa a se cumprir nesta vida para continuar além dela.
Eu tive que fazer, concomitantemente, um exame de consciência e um exame das ideias que me foram apresentadas. Eu não poderia julgá-las se antes não conhecesse os meus interesses, objetivos e desejos reais. Percebi também que o reconhecimento de quem eu sou me permitiu ver tudo o que recebi de fora: as coisas boas como as ruins.
A trajetória intelectual é um caminho de maturidade. Crescemos em sabedoria à medida que crescemos em humildade e docilidade para aprender.
A humildade e a docilidade precisam ser conquistadas. Elas não são inertes, mas contemplativas. A abertura que permitem requer um esforço da nossa parte. Temos que nos esforçar para conhecermos os rumos da cultura (saudável e em crise) ao nosso redor e também para remover as escamas que nos impedem de ver quem somos e quem estamos chamados a ser.
Na minha luta para alcançar docilidade e humildade, deixei dois relatos; dois livros que são um testemunho daquilo que aprendi a amar e reconhecer como inquietudes legítimas, objetivos dignos de que eu lhes dedique toda a minha vida.
Esses dois livros – A Crise da Cultura e a Ordem do Amor e Virtudes no Cotidiano – podem servir a vocês como alguns dos mapas em sua jornada.
Até breve, meus amigos.
Victor.
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Na minha livraria vocês podem encontrar os dois livros: