É bem provável que você já tenha ouvido, em algum momento, que fé e razão “se contradizem”; que, ao trilhar um caminho, não se pode trilhar o outro.
A contradição não se resolveria. Como a razão, nessa perspectiva, é reduzida também a uns quantos aspectos materiais da vida humana, tudo o que ultrapassa a esfera material é considerado subjetivo. A fé também seria “subjetiva”.
A Igreja sempre defendeu a complementaridade entre fé e razão. A suposta contradição, hoje em dia, fica cada vez mais difícil de ser defendida – até mesmo em círculos não cristãos.
O que eu quero lhe propor neste e-mail, *|PRIMEIRO_NOME|*, não é um ataque aos falsos argumentos que tentam contradizer a complementaridade entre fé e razão. Ao contrário: eu quero convidar você a tomar a suposta contradição como uma oportunidade.
Ao longo da sua história, a Igreja precisou combater uma série de erros que atentavam contra a Revelação. Cada condenação, ao contrário do que se poderia imaginar, foi uma oportunidade para a defesa da Revelação e também para articular melhor a doutrina.
Só Deus é capaz de tirar ordem da desordem. Nos concílios da Igreja, as crises e riscos provocados pelos erros foram transformados em ocasiões para meditar e entender melhor a Revelação recebida de Deus e transmitida aos apóstolos e seus sucessores.
A Igreja nunca esteve acomodada; na verdade, nunca pôde estar. Em alguns países, em épocas diferentes, ela esteve mais ou menos próxima da cultura. Mas nunca esteve universalmente confortável.
É essa mesma postura, de uma inquietude positiva, que eu quero lhe propor.
Se já sabe que fé e razão se complementam, que tal pensar nas formas que essa complementaridade toma? Nas ciências naturais, na filosofia, na arte... enfim, as possibilidades são muitas.
A complementaridade entre fé e razão é dramaticamente abraçada na unidade de vida. Conhecendo melhor a realidade, nós conhecemos também o seu Autor. Meditando na Revelação, percebemos de maneira mais clara a atuação da Providência na criação divina.
Na homilia A vocação cristã, São Josemaría Escrivá o explicou claramente:
“Se o mundo saiu das mãos de Deus, se Ele criou o homem à sua imagem e semelhança e lhe deu uma chispa da sua luz, o trabalho da inteligência – mesmo que seja um trabalho duro – deve desentranhar o sentido divino que já naturalmente têm todas as coisas; e, à luz da fé, percebemos também o seu sentido sobrenatural, que procede da nossa elevação à ordem da graça. Não podemos admitir o medo à ciência, porque qualquer trabalho, se for verdadeiramente científico, conduz à verdade. E Cristo disse: Ego sum veritas, Eu sou a verdade.”
A inquietude positiva é muito mais do que vencer uma polêmica. Ela é uma fonte de meditação para a nossa vida espiritual, um passo a mais no caminho da sabedoria.
Todos nós somos capazes de repetir que “fé e razão se complementam” com a mesma facilidade daqueles que dizem: “fé e razão são contraditórias”. Mas será que conseguimos viver e realizar a complementaridade nas nossas trajetórias biográficas? Será que você consegue?
Aquele que tem vocação intelectual precisa, além de um estudo ordenado e rigoroso, viver honesta e virtuosamente. Precisa ainda cultivar uma vida fecunda de oração.
A sabedoria é encontrada no amor e na humildade.
Que tal cultivar um pouco dessa inquietude positiva diariamente?
Até breve.
Victor.
***
A homilia de São Josemaría Escrivá está no livro É Cristo que Passa.
Há um capítulo intitulado Vida Intelectual e Fé Cristã no meu livro O Mínimo Sobre Filosofia.
A minha introdução favorita à vida intelectual foi escrita pelo Padre Sertillanges.