No dia 30 de setembro, a Igreja comemora a festa litúrgica de São Jerônimo.
Ele, encarregado pelo Papa São Dâmaso, foi o responsável pela versão oficial (até hoje) da Bíblia na Igreja latina: a Vulgata. Revisou traduções já existentes e traduziu pessoalmente vários textos do Antigo e do Novo Testamento.
Você conhece a história de São Jerônimo? O amor dele pela Bíblia é um exemplo para nós. Grande intelectual, conhecedor também do grego e do hebraico, foi um asceta.
A ascese de São Jerônimo, isto é, os exercícios de penitência para amar mais e melhor a Deus, estão intimamente associados ao seu conhecimento da Bíblia Sagrada. Podemos dizer que o Santo Doutor foi um bom exemplo do que São Josemaría Escrivá disse no ponto 391 do livro Forja: “Faz-me santo, meu Deus, ainda que seja à paulada”.
Jerônimo nasceu em uma família cristã, recebeu catequese e uma boa formação humanista, semelhante à de Santo Agostinho. Mas essa formação não foi a única responsável por incutir nele o amor ardente à Bíblia pelo qual nós o conhecemos hoje.
Ele precisou esmagar o próprio orgulho, a muralha de soberba que impedia com que a graça de Deus entrasse. E é nesse esforço, que São Jerônimo se tornou um modelo de como todos nós devemos nos aproximar da Bíblia.
Tal como o seu contemporâneo Agostinho, Jerônimo teve certo desgosto com os textos bíblicos. Comparados aos escritos dos mestres latinos, os textos sagrados pareciam obscuros, confusos até. Como esse homem bem formado – de méritos intelectuais autênticos – poderia extrair o sentido daqueles textos confusos?
Sem resposta para esse dilema, Jerônimo o deixou de lado por algum tempo. Eu quero que você perceba algo muito importante: Jerônimo nunca deixou de ser cristão. A suposta limitação dos textos sagrados fez dele um cristão afastado da Bíblia.
Você entende, como Jerônimo teve uma experiência parecida com a nossa? Mesmo sendo cristãos, por vezes a Bíblia ocupa o segundo plano das nossas vidas. Nós tampouco a entendemos (ainda que por motivos diferentes dos que teve São Jerônimo). E deixamos o problema de lado porque, afinal de contas, continuamos sendo cristãos. Essa experiência é – ou foi – também a sua?
Conta-se que, bem no meio de uma Quaresma, São Jerônimo ficou doente, às portas da morte. Numa visão, foi levado para ser julgado por Deus. Perguntado por sua condição, Jerônimo respondeu: “sou cristão”. Mas o Juiz negou: “Tu mentes: tu és ciceroniano, não cristão. Pois onde está o teu tesouro, ali está o teu coração”.
Jerônimo, reitero, continuou sendo cristão. Ele acreditava que não mentia diante do Juiz. Mas o seu coração não estava na Palavra de Deus.
Não há nada de mau em estudar os clássicos. Aliás, foi justamente esse estudo que capacitou São Jerônimo para a missão nobre pela qual sempre será conhecido. No entanto, naquele momento, o seu coração estava fora da palavra de vida eterna.
A partir dessa constatação, Jerônimo decidiu se debruçar sobre a Bíblia como se debruçara sobre os clássicos. Os seus méritos intelectuais foram de suma importância, mas não suficientes. Para meditar amorosamente nos mistérios da Revelação, Jerônimo precisou se purificar.
Ao esforço intelectual, cuja experiência ele já conhecia, precisou acrescentar outros esforços, sem os quais não se tornaria humilde para compreender a Palavra de Deus. Jerônimo se dedicou intensamente à oração e à penitência.
E só então toda a sua capacidade intelectual foi transformada em uma verdadeira vocação. O jovem Jerônimo, que por algum tempo deixou de lado a Bíblia, tornou-se aquele de quem o Papa Bento XVI pôde afirmar: “Toda a vida de Jerônimo se distingue por um amor apaixonado pelas Escrituras, um amor que ele sempre procurou despertar nos fiéis”.
É de São Jerônimo aquela frase célebre: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Ele experimentou essa ignorância e a venceu.
Você não gostaria de tomá-lo como modelo e fazer o mesmo?
Até breve.
Victor.